A cidade
Na cidade por onde caminho
Não há certezas
Não há dúvidas
A cidade que caminho
É feita de perplexidades .
Na cidade por onde caminho
A fé há muito foi roubada
As pessoas estão cegas,surdas ,indiferentes
Não escutam o canto dos pássaros
Não sentem o barro a seus pés.
Na cidade por onde caminho
Os caminhos levam a lugar nenhum
Não há dias,não há noites
Há o tempo,uma quimera
Milhares de monstros desfilam nas passarelas.
Na cidade por onde caminho
Há o vinho o pão consagrado
Há a fome a sede a virtude e o pecado
Há a celebração da estupidez humana
Há o que restou,a falta do Amor.
Na cidade por onde caminho
Há uma inútil flor
Ela não furou o tédio o nojo a mentira
Os corações estão gélidos e maltrapilhos
O menino de Itabira se lamenta .
Na cidade por onde caminho
A infância foi roubada
As crianças pararam de sorrir
Elas não andam mais de mãos dadas
Estão taciturnas e carrancudas.
Na cidade por onde caminho
Não há mais luar
Não há mais serestas
Não mais princesas nem sapos
Todos os Vinícius e Klints foram confiscados.
Na cidade por onde caminho
Não há mais milagres
Não há mais vida nem morte
Não há mais flores nem finitudes
Não há mais poesias nem poetas.
Na cidade por onde caminho
Nas avenidas onde ando,furtivo
Nos becos onde me encurralo
Na cidade por onde caminho
Componho odes e vivo minhas Odisséias diárias.