FERIDA
deitei-me
encolhi-me com ar de sumiço
escondendo ali
tudo de tão íntimo,
não queria ter espaço
para ver e nem sentir;
espremendo qualquer fresta
para nada mais caber
nem mesmo a dor
sem querer chamar atenção
sem precisar de alguma testemunha
até fechei os olhos
para fingir que não via
naquela hora só queria aprender
como despir a própria pele
para não vestir o que ela sentia
revestia ferida aberta
como se não pulsasse
para ver se esquecia de doer;
se o cuidado é cura
a falta dele inflama
necrosa, escorre
pouco a pouco mata
pouco a pouco morre