O morto
Não me fechem os olhos. Não estou pedindo para que não me matem, não é isto! É apenas uma questão de ótica. Sem eles não consigo ler os seus pensamentos. São duas portas sem fechaduras que fazem uma grande diferença nas minhas conclusões pensativas. Este pedido veio à minha cabeça neste exato momento porque gosto demais de Pessoa(s). Principalmente aquelas que comungam comigo na loucura, na dor e também no fingimento. Por hora, tenho um caso diverso na cabeça, mas para falar de pessoas fingidas preciso pensar redobrado para não incorrer num caso perdido. Certo dia, logo no amanhecer, maquinava na minha cabeça coisas do fim do mundo-quase do infinito. E, sem que os meus olhos estivessem vendados, pedi licença para o defunto, que estava ali estendido por mais de meio-dia na cama da geladeira do hospício. Olhando nos seus olhos, indaguei: __ Qual de nós dois está morto? Ele me respondeu na lata: __ Se soubesse, não teria vindo. Foi depois desta conversa que passei a acreditar que sou outra pessoa, olhando para mim mesmo.