O cavalo morto
Vi o cavalo morto. Não tinha ouro nos dentes. No chão, estrebuchado, o contraste: vida e morte. Examinei cada detalhe que me foi possível vislumbrar naquele corpo, ora imóvel e fétido. As ferraduras das patas traseiras já não estavam presas aos cascos como de costume. Os cravos, com certeza, perderam-se pelos campos e grotões estorricados da fazenda. O estado deplorável do animal me faz crer que o tombo teria sido programado na antevéspera. Não havia sinais de luta pela vida, mas sim, um desvelo pela morte. Por conseguinte, fiquei ali parado, ainda que por poucos segundos, tentando imaginar como teria sido a vida que carregou por tantos anos. Logo à nossa frente, havia uma porteira totalmente esbagaçada. Pedações e mais pedaços de tábuas perdidas pelo pasto. Nada poderia ser aproveitado, nem mesmo a vil tramela. Os urubus, rondavam nossas cabeças na certeza de que mais cedo ou mais tarde, a refeição seria farta. Olhando para trás, vi e confesso: fui surpreendido com a morte do cavalo.