Caçador de vaga-lume
Ontem saí para caçar vaga-lumes. Atirei no primeiro que vi. Coitado, morreu sem apagar a luz! O fim da caçada foi um horror. Vi aparições terríveis. Lá estava O Cão Sem Plumas de João Cabral de Melo Neto querendo me morder a todo custo e sorte. Achei inúteis os seus latidos, o meu medo era visível. Por mim, dispensava todo aquele escarcéu. Pior… Não havia um sacristão por perto para conter a fúria do bicho.
__ Que horror!
Tremia como vara verde na fogueira, escumava pelo canto da boca sem parar.
A falta do que fazer e um tanto quanto de irresponsabilidade, foi o que me fez desejar aquela caçada sem pé nem sapato. E, ademais, não há porque um sujeito como eu, ter, no sangue, a necessidade de matar um bichinho tão indefeso. Só um espírito alheio desprovido de qualquer sentimento de compaixão para sair por aí numa aventura como essa. Não é porque eles existem, que devo me dar ao direito, incondicional, de matá-los. Olhei para o corpo estatelado no chão pela última vez para certificar-me do tamanho da descompostura que tive. Meu triunfo foi tão inútil quanto uma gota d'água no oceano.