Mãos
Seus olhos já não me acendem, não me dizem nada que não saiba ler de cor. Mas as suas mãos, ah, as suas mãos, dedos e cheiros sim! Me tocam profundamente, me dizem o que os seus olhos já não querem revelar. Tudo isto, junto ou separado, me traduz dos pés à cabeça. Desvendam os meus desatinos e os meus mais puros e severos segredos. Putz! Logo eu, que nunca tive tempo para os prazeres da carne, que nunca tive horas para ouvir as respostas do corpo e as perguntas da alma. Seus toques decantam todos os meus versos, versos que mal conhecia. Parece que toma, a mim, como um ente de outra dimensão. Talvez o seja, de verdade, em suas mãos. Sem saber o que fazer, deixo cair devagar o meu Ser nu, sem pano de fundo. Lentamente me perco entre um afago e outro. Quando amanheço quero ser condenado a ficar encarcerado em seus braços para o resto da minha existência.