Sonho
Esparramei os olhos pelos telhados das casas velhas de onde moro até onde a vista, cansada, alcançou. Como se lá estivesse, do outro lado do muro, sonhei que todas estrelas estavam grávidas de Dionísio, e que estavam aos meus pés, nuas e cruas. Eram tantas e quantas que não dava para contar. Lentamente fui nominando uma a uma. Fui gostando e desgostando de todas na mesma intensidade. De início percebi haver um pouco de ciúme entre elas. Os olhares eram fortuitos, inesperados mesmo. Depois de alguns dias, tomei gosto pelo fato. Comecei achar que tudo aquilo era normal. Mas não era bem assim. Dentro de mim a Estrela Dalva era a que mais me agradava, mas como também estava grávida de Dionísio, o Deus da Luxúria, fiquei reticente. Dei uma guinada de trezentos e sessenta graus quando, pela última vez, ela fixou os olhos em mim. Cheguei a provocar a possibilidade de uma aproximação mais intensa. Essa foi a mais estranha paixão da minha vida. Um moleque que sonha acordado, um amante de poucos sonhos.