Olhos miúdos

Olhando para trás dissemos adeus um ao outro. Ela me olhava com as pupilas miúdas, suplicantes. Como se não acreditasse no que via e lia em meus olhos. Não tivemos tempo de nos acudir, uma tristeza! Esperei que todos os meus gritos calassem abafados por minhas mãos. Fui andando... Virado de costas para o meu destino até que a corcova da rua nos fizesse perdermo-nos de vista. Cada passo adiante era uma pancada em meu peito. Depois de algumas horas já trotava como um cavalo bravo. O sofrimento, inconfessável, vinha do fundão da alma, repicava do lado esquerdo do peito. Diria: quase uma facada, daquelas de matar porco gordo pelo sovaco. Parti de volta para o meu encontro, mergulhei fundo, de ponta-cabeça. Não me encontrei mais.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 17/03/2024
Reeditado em 23/04/2024
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