Ribanceira

Vez por outra, quando o sol desdobra na ribanceira das lonjuras da minha casa, a dor estorva o coração. A danada é tão forte que nem dá vontade de levantar mão para o trabalho vindouro. Nas horas de remanso muitas vezes converso comigo mesmo: é, eu e Eu. Frente e verso. O entrevero é de fustigar ouvido até de quem já bateu com as botas. Coisa de maluco, de maluco mesmo! O mais pitoresco é que desconfio de mim mesmo. Acho que estou mentindo para o Eu. Ele finge que nem é com ele. Não sei se você está me entendendo. Mas vamos lá…! O problema capital é que incomodo a mim mesmo e não tenho, até então, uma justificativa plausível para tão intrigado comportamento. Após nos engalfinharmos, vária vezes, fomos ao psiquiatra. Depois das apresentações, nos disse calmamente: __ Senta aí, conversamos os três, de igual para igual. O susto foi tão grande que pedi para que conversasse primeiro com o Eu e, que, depois, se fosse o caso estendido, eu falaria com ele sem ressalvas.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 16/03/2024
Reeditado em 23/04/2024
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