Devaneios
Minha poesia não atravessa fronteiras, nem portas, nem as suas janelas. Existe em mim, uma barreira que a contem sem que eu saiba o porquê. Capengando verso a verso, vai esfacelando aos pouco rumo ao fundo do quintal, depois do pequizeiro. Às vezes, quando consegue um derradeiro suspiro, gruda na parte podre do muro formando verdadeiros nichos: ora de lagartos, ora de borboletas - figuras rupestres. É como se eu ainda estivesse morando nas cavernas do século passado. Para mim, são verdadeiros enigmas que vão se juntando, grudando uns nos outros sem que os defina com clareza. É tudo muito louco! É como se eu fosse a parte sólida do muro e os bichos, as minhas pernas, braços, cabelo e barba. Lê-las é como ler a mim mesmo, isto é inevitável e até desejável. A princípio não concordava com isso, mas gradualmente fui lendo e relendo tudo que havia escrito até ontem, tentando buscar uma resposta acolhedora para os meus devaneios poéticos.