Arrependido
Não quero um córrego sem água, nem um rio com cem corredeiras. Não sou homem de conversar com estranhos. Quando me ponho a dialogar com um rio é porque já o conheço de outras vidas. Sentado à margem o escuto atentamente, às vezes prendendo até a respiração para não perder uma única palavra. Assim ficamos nós por horas a fio. Quando muito damos uma pausa para meditação. O rio com quem confabulo, na maior parte das minhas horas de lazer, se chama Arrependido. Acho que você nunca ouviu falar o nome dele. Mas explicarei, não se preocupe! Ele despeja suas águas cristalinas em um grande lago. Desses para mais de légua de comprimento. Da fundura nem falarei, coisa de não se ver o fundo. Quando chove demais, o bendito transborda, despeja parte da sua fúria no pobre coitado do Arrependido. Pois bem, você não precisa acreditar em tudo que falo, mas acredite: às vezes ele corro para o norte, às vezes para o sul. __ Ah, eu também sou um rio, vou para onde a vida me levar!