Púlpito
Lá onde moro tem um púlpito novinho em folha. Aproveito sua estrutura de concreto aparente para reciclar, em voz alta, todos os meus poemas. Vou decantando um a um e ninguém fala nada de nada. Às vezes topo um sujeito com o olhar fincado em mim. Acredito que esteja interessado no sarau a céu aberto. Eu, que não machuco os versos, até rimo amor con_dor. As árvores maiores mudam de cor quando solto a voz: umas são choronas e vistosas. Outras, as mais preguiçosas, nem chorar sabem. Isto só acontece quando me escutam. Um fenômeno poético da natureza. De qualquer forma, se ali morasse um número maior de pessoas poetizadas, não muitas, multidão só atrapalha, seria um motivo importantíssimo para trocarmos algumas verdades. E por que não, livros? O problema é que a poesia, hoje, já não cabe no bolso de muitas pessoas. É até triste dizer isto, mas esta é a mais pura das verdades que disse por esses últimos dias. Às vezes penso que sou um indivíduo sonhador e fora de propósito por tamanha ousadia.