Imortal
No esplendor de anos passados, no colo dela eu era imortal. Menino estorvado de desejos e gostos. Mas pensado bem, hoje, depois de umas luas atravessadas em nossos caminhos de idas e vindas, nem sei para onde ela poderá nos levar. Minhas forças já andam quase sem atitude, já não revelam muita serventia. Minha pessoa, aqui presente, é um fogo-morto a essa altura do campeonato. No topo da escada ela me olha. Balança a cabeça em um sinal de consentimento positivo, dando a entender que ainda sou uma pessoa importante em sua vida. Com gestos e trejeitos complexos afirma que não preciso querer mais nada. Diz que sabe o que está fazendo por mim e por ela. Nisso bateu em mim, o desaguar da consciência. Como poderia eu deixar que me levasse como um fardo talvez nem tão pesado? Mas a morte é assim: ora estou com fome, ora estou com medo.