Urgência
Depois de algum tempo, por teimosia, por fantasia, por chamamento, por urgência, dentro e fora de mim de repente não fazia mais sentido estar ali. Tudo muito igual, tudo tão vazio, tudo seco, sem eco, sem foco, de pouca criatividade, repetitivo. Tudo frio e ao mesmo tempo braseiro, fornalha, por falta de algo que aproxime o coração de forte emoção. Então eu disse adeus a este mundo deserto através da prosinha. Então eu disse não para o mundo infiltrado na onda tecnológica, o submundo virtual, corrente, cortante, solitário, invisível aos olhos nos olhos, ao ouvir, ao sentir, ao experimentar ao vivo as ameaças e as promessas, as verdades e as mentiras envolventes. Então eu disse não aos que sobrevivem sem presença amiga e real. Então eu disse não aos que choram suas mágoas, aos que mostram seus ressentimentos, suas dores, seus lamentos. Então eu disse não aos fios curtos e mudos ardidos, gritantes. Então eu disse não a surto geral de perturbação. Então eu disse não ao mar de vozes velozes que não escutam a própria vida passando vazia. Então eu disse - vou me livrar desses meios ruins de navegantes sem rumo. Então eu disse - não vou entrar nessa falta de pertencimento por que eu preciso de muito mais, eu preciso mais do que um sorriso sínico, eu preciso mais do que uma curtida, eu preciso além do experimentar, eu preciso de mais tempo para aprender a ver a mim mesma no outro, eu preciso sair do lugar comum para receber e viver outros momentos. Então eu disse, já não tenho medo de descobrir outros prazeres, se tenho o amor próprio para me agasalhar na hora em que tudo passar...