Aquela voz
Nada continua, disse a senhora sentada em uma cadeira de balanço em frente ao seu jardim de hortênsias de tom azul clarinho lindo. Alguma coisa no tempo parece paz, mas se sentirmos bem dentro de nós não é? O tempo passando envolve situações de convívio social, familiar, profissional, às vezes pacíficos, outras vezes não. O tempo passando envolve estabilidade e instabilidade. Envolve ter e não ter direitos individuais, coletivos, seguir regras estreitas, punições, deslumbres, estímulos, alegria, tristeza, resgastes, atenção, precaução, preocupação, envolve tantas coisas do mundo. Se você pensar no sentido do tempo em relação a qualquer situação humana, não, nada continua. O tempo tem esse velho sinal vermelho ascendendo para qualquer ser – brancos, pretos, ricos, pobres, homens, mulheres, crianças, jovens, velhos. Existimos matéria fina pequenina, um dia, tudo desaparece, com o tempo passando, nada continua, repetia a senhora. A prosa, a presença com pessoas queridas, os livros, os discos, os livros, a música, a poesia, nós, os outros, tudo indo, tudo findo. Não temos escolha, no fundo não temos escolha, se nada continua...