Ao meu pai
Que nunca soube quem eu sou,
Nem nunca quis saber o que eu gostaria de ser
Todo tempo
Rompendo padrões rígidos
Tentando ser o que se é
Desafiando a vida
O acaso às vezes protegendo
O destino impulsionando
Alimentando a própria natureza
Crescendo conheceu as dores do abandono
Sem querer se tornou independente
Talvez por isso;
Tombou algumas vezes, se machucou, se reergueu
Reservadamente;
Chorou de medo e pela falta de afeto
Frequentemente;
Riu de si mesma pelos enganos incontroláveis
Ingenuamente se acolheu em alguns braços
E por entre abraços recebeu algum calor humano
Nesse ciclo de vida
Ainda menina descobriu no mundo das palavras
Uma espécie de agasalho
E disfarçada pela linguagem literária
Desafiou as possibilidades inexatas
Então voltou para eu e escreveu
E rompendo as formas se autorizou
Dizer a verdade de si mesma
Na prosa, na poesia, nas letras escritas.