Tudo do que somos parte

Em tempo de telefonia

pessoas são luzes e pedras incrustadas.

Na célula-elevador, ou naquelas das salas-de-espera,

não se escuta Bom dia!

E se alguém diz sonoramente, Bom dia,

o espanto adormecido ensurdece

e emudece o entorno.

A fala nesses tempos mora nas gravações mecânicas,

Em câmaras ocultas, na televisão,

das quais saem sons e imagens que se refletem no vidro

dos vasos de orquídeas plastificadas,

mudos como pessoas vitrificadas.

E no entanto, somos orgânicos,

sentimentais.

Feitos de células intercomunicáveis,

ansiamos e sofremos de solidão pela ausência

e silêncio do outro humano.