Da série poema inútil
Ser poeta é enlouquecer mais um pouco,
é enxergar nas ruas o rastro branco e preto dos automóveis,
alheio à dança dos pedestres,
é desenhar a elegância trôpega do mendigo, em seu desamparo e sua solidão, é doer pelo que não posso mudar, é criar parcelas de mundo
Ah, ser poeta é tragédia tragicômica porque preciso rir, principalmente de mim,
é não ter o cabelo penteado
e andar vez por outra, descalça,
na Avenida Paulista
Ser poeta é escrever por eleger um destino e quem sabe? Também ser escolhida?
Não preciso de partido político para pertencer à resistência, porque o poeta não é doutrinável, ser poeta é descobrir que a poesia é política ética e feroz, é ter no coração uma biga, pois, ser poeta é pertencer a legiões rebeldes,
sabendo-se minoria absoluta