Coisas que não podem ser feitas em uma sexta-feira à noite.
Em momentos como esse:
Às quatro da madrugada,
Escutando Sinatra cantar “Strangers in the night”,
Lendo Bukowski
E tomando chá de canela para esquentar.
Sinto o movimento epilético
do que será uma epifania começar.
Algo está errado.
Algo está muito errado.
Isso não parece a coisa certa para fazer numa sexta a noite
Beirando os trinta pareço ter sessenta
E nenhum emprego ou possibilidade.
Sem futuro e cada vez menos tempo.
Então começam as perguntas:
“Que fazer da vida?“
“Pra que tudo isso?”
“Para onde estou indo?”
“O que tem na geladeira?”
Entalado na garganta
Revirando o estomago
Estou cercado de perguntas
E cansado.
Terrivelmente cansado.
Cansado das mesmas e empoeiradas questões.
Não há cervejas na geladeira
Não há respostas satisfatórias em uma sexta–feira perdida
Muito menos em uma vida desperdiçada.
Levanto e vou dormir
Antes que a epifania epiléptica se materialize
Em um rascunho sujo que chamarei de poesia
E a sensação de estranho na noite se instale por completo.
Há coisas que não podem ser feitas em uma madrugada de sexta-feira.