CONVERSAS CONCRETAS III

Quando a mesa abriu as pernas

o azulejo enrubesceu:

Nunca vira tanta teia.

-xxx-

O apartamento censurou:

Numa hora dessas, ao sair,

Lacrarei a minha entrada.

Minhas paredes se cansaram

de ouvir os teus lamentos.

-xxx-

A cidade grande convidou

a cidade pequena:

- Venha te unir a mim!

- Jamais! - temo que me estupres.

Sou virgem de tantas coisas...

-xxx-

Águas deslizam conversando:

- Meus avôs passavam livres por aqui.

Agora temos de esperar nas comportas.

-xxx- -

O prédio vizinho sombreado:

Ah – se eu pudesse andar!

Iria te derrubar com o meu peso.

O outro se espelhou inteiro.

-xxx-

Nas esquinas, as ruas fofocavam.

Falavam das vizinhas à frente,

se dobrando na contramão.

O apito do guarda silva um pito:

Parem!

A janela da frente

perguntou à outra:

Por que te abres

quando eu me abro?

-Tenho uma fresta

sempre espiando.

Vilmar Daufenbach
Enviado por Vilmar Daufenbach em 28/04/2011
Reeditado em 06/05/2011
Código do texto: T2936746