CONVERSAS CONCRETAS III
Quando a mesa abriu as pernas
o azulejo enrubesceu:
Nunca vira tanta teia.
-xxx-
O apartamento censurou:
Numa hora dessas, ao sair,
Lacrarei a minha entrada.
Minhas paredes se cansaram
de ouvir os teus lamentos.
-xxx-
A cidade grande convidou
a cidade pequena:
- Venha te unir a mim!
- Jamais! - temo que me estupres.
Sou virgem de tantas coisas...
-xxx-
Águas deslizam conversando:
- Meus avôs passavam livres por aqui.
Agora temos de esperar nas comportas.
-xxx- -
O prédio vizinho sombreado:
Ah – se eu pudesse andar!
Iria te derrubar com o meu peso.
O outro se espelhou inteiro.
-xxx-
Nas esquinas, as ruas fofocavam.
Falavam das vizinhas à frente,
se dobrando na contramão.
O apito do guarda silva um pito:
Parem!
A janela da frente
perguntou à outra:
Por que te abres
quando eu me abro?
-Tenho uma fresta
sempre espiando.