CARNE E PÓ
Quanto eu quiser ser carne
Eu vou te procurar
Te entregarei proteínas, fibras, músculos
É isso o que vc quer ?
Então carne é o que terás...
Talvez maquiada de vermelho
Talvez retocada no espelho
Um pouco de sorriso forçado
Cheia de encantos floridos
Pra mais tarde consumir te em gemidos
A carne é tua, ai tens
Pega, toca, beija, lambuza
Abraça, amassa, goza e usa
Em troca, eu grito
Te afago aflito
Te acalmo e clamo
Te contemplo menino
Te achas tão feliz nesta hora
E eu irônica não te entendo e vou embora
Ficou contigo o sangue da carne
O gosto viscoso na boca
E não tens mais que me procurar
Porque minha alma não é tua
Somente a carne é que te dei
Te consumia o desejo, agora é morto
Te desejava um beijo, agora é pouco
Quero muito mais do que carne
O que te dei é tudo o que compreendes
O que me deste é pouco pra minha alma pagã
Fomos eu e tu, carne, gozo e só
Te esqueço em breve
De lembranças quentes
Restará em ti apenas pó
Quero a alma nua de um poeta
Que voou pela minha janela
E abraça o luar prateado lá fora
E me acena com versos
E com ele me vou embora
Porque quero um amor que completa
Este é o amor poeta
Pra não ser somente carne
Pra ser também versos em lua
Pra ser alma inteira vestida de corpo nua
O poeta não quer apenas a carne
Ele é parte de mim é meu cúmplice e companheiro
Sorri calado a cada erro que desatino
Mas pra ele sempre volto
Pois o poeta é meu único destino...