minha casa
vento e grotas,
as paredes
pé direito,
o universo
abóboda de catedral
sol, o lustre diurno
à noite milhões de estrelas
e a lua de meus espelhos
minha cama de escombros
o palco do que vivi,
solidão e multidão
desfilam itinerantes
minha casa desce encostas
pedras rolam e não perdoam,
e às vezes, na maciez da argila
vivo um carinho felino
minha casa natureza
aconchega, alimenta
abraça quem me visita
devoro frutos silvestres
e a caça de bem comigo
vive livre de temor
minha casa não quer fotos
sou o álbum de lembranças
a casa é só um ponto
nem chega a ser abrigo
garantias nunca dá
minha casa e eu
criaturas insondáveis
infinitas e mortais