TRÊS MULHERES EM MIM SE REUNEM

A carne rija

o cheiro de canela

e a cor de rosa-amélia

embarcam em um trem-de-ferro

dando adeus pela janela

A que assiste a partida

de pé, em uma estação,

é uma outra mulher,

e muito desconhecida

Parte a solar,

deixando-me branca e lunar

e a mercê (completamente)

dos fluxos e das marés

A primeira é mais bela

e com certeza, mais rasa,

como a beirada do lago

ou como a margem do mar

Será a segunda, o lago?

Será que se enrolará

com as coisas tantas

que a primeira

precisou se enganar?

Entre a que vai, no entanto,

e a que assiste a partida

há ainda a terceira,

sapeando a despedida

Que vive ela na pele?

O arrepio de medo

a alegria laranja-da-terra

de casca verde-amarela

doce-amargo e curtida?

Como será estar com seu homem

nesse medo nessa entrega

de alegria arrepiada?

Dos ventres de suas crias

lhe chegaram outros frutos:

filhos da terra fértil

que ajudou a adubar,

e da qual, ela mesma, é parte

A primeira, é natureza,

a segunda se criou

e a terceira é aquela

que se alegra com a chegada

se assusta com a partida

percebendo e sofrendo

formas que desconhece

O mundo começa no corpo?

E onde acaba o mundo?

Desde que o mundo é mundo

começo e fim se refletem

em espelhos praia-mar?

Na estação de um enquanto

três mulheres em mim se reúnem

e abraçadas se despedem

Espinho de ouriço nos pés

amassando estrelas do mar

sigo e traço passado, presente, futuro

Três mulheres trazem formas

que insistem brotar de mim,

Espelho de praia e mar