A passagem

Enquanto nascia

todo instinto era nascer

escorregar

sair da grupiara

atravessando a fenda entre o mar e o ar

Deslizava pelo canal empurrada pelas águas

quando sinto o terror do braço escuro de uma alga

agarrando-me pelo quadril direito

imobilizando-me

obrigando-me a ficar

O que seria o fim

A despedida antes do início

A cabeça não pensava,

apenas forçava a passagem

todo o corpo engajado

os pés empurrando

O monstro recua

As guelras fecham-se

quando degluto o mar

grito

abrindo a glote

O ar invade cada poro

os pulmões, dois foles se abrem

fecham-se, abrem-se

sugando para meu corpo a vida e a alma

Choro

Nascer é sempre um risco, um susto

Foi este o meu primeiro