ODE A JERUSALÉM
“Nos Dias da Ira”
Encostado aos muros sagrados
Fiz sinceras lamentações
Pedindo que do povo os brados
Entrem nas mentes e corações.
Oiço das armas os ruídos,
Oiço das crianças os gritos,
Sinto as angústias e os gemidos
E observo mil olhares aflitos.
Escorre o sangue pela terra
Com o massacre dos inocentes,
Em vez da paz abunda a guerra
E agita-se o coração das gentes.
Choro por ti, ó velha Sião,
Lamentando as atrocidades,
Mas não vejo, porém, a razão
Desta vil Feira de Vaidades.
Onde está o Messias que juras
Feito Javé, que ainda virá
Em manhãs de névoas futuras,
Ou surdo, quem sabe, estará?
Espera-se pois mais prudência
Nessa aventura desumana
O mundo estranha a inclemência
Que em ti mora feita tirana.
Tu, Sião, choraste em Babilónia
Sofrendo ignóbil cativeiro
E sentiste do Holocausto a insónia
Numa diáspora p´ lo orbe inteiro.
Pára, reflecte, olha e faz
Algo por ti que te orgulhe,
Sê vanguarda em luta tenaz
Antes que a desonra te entulhe.
A humildade foi tua virtude,
A sabedoria tua bandeira,
Se houve em ti solicitude
Porque esperas a vida inteira?
Habitam por aí povos irmãos,
Que a outros Messias dão preito,
Porque lhes negas as tuas mãos
Quando à Vida têm direito?
Jerusalém, Jerusalém,
Não sejas assim renitente,
Liberta-te e partilha o Bem
Pois tens o Sol à tua frente.
Que esta Ode tão lacrimosa
Te dê paz e te dê emoções
Pra que voltes a ser honrosa
No justo seio das Nações!
Frassino Machado
In RODA-VIVA POESIA