ODE A JERUSALÉM

“Nos Dias da Ira”

Encostado aos muros sagrados

Fiz sinceras lamentações

Pedindo que do povo os brados

Entrem nas mentes e corações.

Oiço das armas os ruídos,

Oiço das crianças os gritos,

Sinto as angústias e os gemidos

E observo mil olhares aflitos.

Escorre o sangue pela terra

Com o massacre dos inocentes,

Em vez da paz abunda a guerra

E agita-se o coração das gentes.

Choro por ti, ó velha Sião,

Lamentando as atrocidades,

Mas não vejo, porém, a razão

Desta vil Feira de Vaidades.

Onde está o Messias que juras

Feito Javé, que ainda virá

Em manhãs de névoas futuras,

Ou surdo, quem sabe, estará?

Espera-se pois mais prudência

Nessa aventura desumana

O mundo estranha a inclemência

Que em ti mora feita tirana.

Tu, Sião, choraste em Babilónia

Sofrendo ignóbil cativeiro

E sentiste do Holocausto a insónia

Numa diáspora p´ lo orbe inteiro.

Pára, reflecte, olha e faz

Algo por ti que te orgulhe,

Sê vanguarda em luta tenaz

Antes que a desonra te entulhe.

A humildade foi tua virtude,

A sabedoria tua bandeira,

Se houve em ti solicitude

Porque esperas a vida inteira?

Habitam por aí povos irmãos,

Que a outros Messias dão preito,

Porque lhes negas as tuas mãos

Quando à Vida têm direito?

Jerusalém, Jerusalém,

Não sejas assim renitente,

Liberta-te e partilha o Bem

Pois tens o Sol à tua frente.

Que esta Ode tão lacrimosa

Te dê paz e te dê emoções

Pra que voltes a ser honrosa

No justo seio das Nações!

Frassino Machado

In RODA-VIVA POESIA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 15/05/2018
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