CHAMAS DA MEIA-NOITE - ALMA XAMÂNICA
POEMA 5
Mesmo sem teu sorriso,
Mas ainda consigo mira-la internamente,
Pois tudo o que em mim há de nebuloso,
Em vós, é a atração da lua sangrenta a chegar.
E não irá demorar a despontar nos céus,
Da cidade de que nunca tive a intenção,
De fato, de para sempre vir a ausentar-me,
Como um cão não quer fugir do seu dono.
A pedido seu, respondi de meu cômodo,
Antes que começasse a minha breve hibernação,
Já que sinto-me deveras fraco demais hoje,
Contudo, sois a força vital, a qual muito anseio.
-Não sou ninguém. Sou o meio termo.
Sou aquele que rasteja sombriamente,
De acordo com o luar, com a presença dos uivantes,
Que assim como eu, são famintos, e que necessitam,
Cada vez mais, a vir a alimentar-se. É sob a proteção,
Sim, de minha insanidade, que deixo de ser,
Parte animal, arisco, e indecente, sem domesticação,
Para ser num instante que seja, humano, contigo!
Já estava com uma de minhas mãos na porta pesada,
Prestes a abri-la para sair apressadamente do lugar e,
Ouvindo as batidas do seu coração, por minha mente,
Não resisti a pureza virginal de tua candura e coloquei-me,
A cerrar os olhos. Num toque mais que final, de meus dedos,
Que encostaram nos seus. Vi o quanto assustada estavas.
A minha forma animal, xamânica, aterrorizou-te,
E desci de tua cama, para esconder-me entre as cortinas,
As avermelhadas como teu plasma, e de lá, completei:
-Por que tudo o que minha alma condenada quer, é que,
A convidada, a musa intransponível, seja,
O meu rito de passagem. A minha substância.
Diante disso, sumir, envolvendo-me nos pensamentos dela.
Poema n.3.155/ n.26 de 2025.