Noite nua

Se quiserem me ouvir

Vou falar da realidade das ruas

Dos becos, das vielas

Dos cubiculos, das favelas

Dos medos, das mazelas

Escuridão noite nua

São os coriscos curumins bebendo nos botecos da vila

Fumando erva cariri

É outro mundo, gírias dialetos

Corregos, ribeiros, lixo patético

Império da seca, sujo esquelético

Barulho supremo, azos dispersos

Fumo fedorento na fumaça

suor na testa lumienta

Estalos de bala perdida

Sangue indigente fluido

Silêncio na sinuca de bico

Batuque no galpão refúgio

Cachaça pro santo descendo

Treta de casal fogueado

Britas na rua zunindo

Anjos e demônios

No inferno a revelia

Marcados e assoberbados

Rolando na estripulia

Machos e femias famintos

Nas esquinas de arrebites

Olhos esbugalhados, doentes

Sem passado, futuro ou presente