A arte que ninguém vê
Passo os dias, noite adentro,
Com tinta nos dedos, ideias no ar,
Rabisco sonhos no meu intento,
De uma obra que possa me revelar.
Cada página é escrita com cuidado,
Cada traço carrega meu coração,
Mas as pessoas passam ao meu lado,
Com desprezo, com risos, com negação.
Derrubam meu livro, mancham a folha,
Pisam na tela com o peso do escárnio,
Como se meu esforço fosse uma bolha,
Pronta a estourar no vazio do ordinário.
Cospem na tinta que mal secou,
Riem das cores que ousei criar,
Como se a minha dor não bastou,
Precisam ainda zombar do sonhar.
E eu, que só quero contar minha história,
Mostrando ao mundo o que há em mim,
Vejo meus versos perderem a glória,
Afogados no riso que soa tão ruim.
Mas ainda assim, continuo a pintar,
Mesmo com páginas rasgadas ao chão,
Pois minha alma não sabe calar,
Mesmo que zombem da minha paixão.
Um dia, talvez, alguém há de olhar,
E verá nos meus traços o que eu vivi,
Entenderá que, mesmo a tropeçar,
Minha obra sou eu, e eu nunca desisti.