Poeta Fantasma

Fazia frio quando eu deixei este mundo

Estava debruçado sobre velhos pergaminhos

Que encontrei num dos meus vastos caminhos

No tempo em que andava igual vagabundo

Numa biblioteca abandonada

Cuja qual numa noite gélida eu dormia

E como cobertor, um mapa que outrora eu lia

A mim era útil naquela madrugada

Eu, cansado que me encontrava

De um longo dia caminhando

Seguindo a pé, viajando

E quase nunca descansava

Levantei-me quando o dia amanheceu

Um aperto no peito eu sentia

Uma angústia, parte de melancolia

Era forte, a fome que me deu

Mas o cansaço era soberano

E dominava meu corpo que caía

Andar, eu mal conseguia

Era terrível essa vida de cigano

Amar, eu nunca amei

De verdade eu afirmo com razão

Se alguém um dia me demonstrou paixão

Que desculpe-me, pois eu nunca notei

E naquela noite eu estava tão calado

Mas o pensamento estava a mil

Nunca quis parecer um ser hostil

Mas também não queria ser apaixonado

E minha vida já nem fazia mais sentido

Eu pensava mas não encontrava uma resposta

E pra mim, a morte já fazia proposta

Morres agora? Mas já teve vivido?

Eu não soube o que falar

Toda noite eu sonhava com o anjo

Que vinha a mim trazendo um arranjo

Parecia que queria me conquistar

E a lágrima que caía no meu rosto

Ardia como um voraz braseiro

Enquanto a dor me tomava como hospedeiro

Era um profundo ardor fúnebre em desgosto

De uma ferida vertente ao sangue que transborda

Matando a alma como adaga que perfura

Deixei este mundo como uma sofrida criatura

Pendurado aos prazeres de uma corda

E sigo agora como um fantasma mórbido

Cedendo meu espírito à cortesia

Deste modo triste, insano e sórdido

Relatando a morte em poesia

Welerson Recalcatti
Enviado por Welerson Recalcatti em 25/07/2024
Código do texto: T8114711
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.