Poeta Fantasma
Fazia frio quando eu deixei este mundo
Estava debruçado sobre velhos pergaminhos
Que encontrei num dos meus vastos caminhos
No tempo em que andava igual vagabundo
Numa biblioteca abandonada
Cuja qual numa noite gélida eu dormia
E como cobertor, um mapa que outrora eu lia
A mim era útil naquela madrugada
Eu, cansado que me encontrava
De um longo dia caminhando
Seguindo a pé, viajando
E quase nunca descansava
Levantei-me quando o dia amanheceu
Um aperto no peito eu sentia
Uma angústia, parte de melancolia
Era forte, a fome que me deu
Mas o cansaço era soberano
E dominava meu corpo que caía
Andar, eu mal conseguia
Era terrível essa vida de cigano
Amar, eu nunca amei
De verdade eu afirmo com razão
Se alguém um dia me demonstrou paixão
Que desculpe-me, pois eu nunca notei
E naquela noite eu estava tão calado
Mas o pensamento estava a mil
Nunca quis parecer um ser hostil
Mas também não queria ser apaixonado
E minha vida já nem fazia mais sentido
Eu pensava mas não encontrava uma resposta
E pra mim, a morte já fazia proposta
Morres agora? Mas já teve vivido?
Eu não soube o que falar
Toda noite eu sonhava com o anjo
Que vinha a mim trazendo um arranjo
Parecia que queria me conquistar
E a lágrima que caía no meu rosto
Ardia como um voraz braseiro
Enquanto a dor me tomava como hospedeiro
Era um profundo ardor fúnebre em desgosto
De uma ferida vertente ao sangue que transborda
Matando a alma como adaga que perfura
Deixei este mundo como uma sofrida criatura
Pendurado aos prazeres de uma corda
E sigo agora como um fantasma mórbido
Cedendo meu espírito à cortesia
Deste modo triste, insano e sórdido
Relatando a morte em poesia