ANTEVISÃO

Eu cria em um mundo onde a terra florescia

Nas costas de um ser ainda farto;

Nos campos onde um homem ainda sorria;

Nos seios de um mundo iluminado.

Temo crer, no exato hoje interminável

Partes propícias a um inferno permitido

Aceitado como pôr-do-sol que era agradável

Para os males de Satã admitido.

Creio no Senhor, que é perfeito

Apesar dos meios, tão insalubres

Para que o sol do Maligno imperfeito

Não queime meu próximo ataúde.

Que há, no mundo, derrotado?

O aceitar de um dom enegrecido?

O cantar de um pássaro cansado?

Ou um choro inumano e adormecido?

Para as planícies de neve maravilhada

Cavaram-se covas e empecilhos

Cavoucadas — irremediavelmente — abastadas

No profundo arfar de um suplício.

Quão profundo será o decair de corpos mortos

Nas hastes desse povo (in)sensível?

Que Deus proteja nossos flancos ondulados

Ante imprevisto e tenebroso Destino!