Sonata aos pássaros
Olhei pela garra a fome por mais,
Nos olhos vi o corpo dilacerado,
Ordem da morte sobre o céu fechado
Voa por asas negras destes ais.
Além dele, passa a sombra dos góticos:
O corvo, senhor da vida impávida!
Que bica a tristeza da vida trágica,
Escreve cemitérios nos trópicos.
No tom cinza do céu ouve-se o som frêmito,
A treva que nos lume o raio fúlgido,
Das criaturas o voo bruto vai rústico,
Na chuva, o fim do espírito tem êxito.
O lânguido peito clama alegria,
Um voo sem asas para a liberdade,
Sem risco de cair pela ruindade,
Sem ver aves que zombam desta cria.
Lacônico, contemplo os urubus,
Depois os corvos enterram a cena,
Os versos que da mão puxam a pena
Sem término do poema que compus.