Sonata aos pássaros

Olhei pela garra a fome por mais,

Nos olhos vi o corpo dilacerado,

Ordem da morte sobre o céu fechado

Voa por asas negras destes ais.

Além dele, passa a sombra dos góticos:

O corvo, senhor da vida impávida!

Que bica a tristeza da vida trágica,

Escreve cemitérios nos trópicos.

No tom cinza do céu ouve-se o som frêmito,

A treva que nos lume o raio fúlgido,

Das criaturas o voo bruto vai rústico,

Na chuva, o fim do espírito tem êxito.

O lânguido peito clama alegria,

Um voo sem asas para a liberdade,

Sem risco de cair pela ruindade,

Sem ver aves que zombam desta cria.

Lacônico, contemplo os urubus,

Depois os corvos enterram a cena,

Os versos que da mão puxam a pena

Sem término do poema que compus.

Reirazinho
Enviado por Reirazinho em 24/03/2024
Código do texto: T8026798
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