Algoz
Hoje a tristeza não é passageira
Hoje a voz do pensamento é corriqueira
Há um animal em minhas costas
Cravando, suas garras em mim peçonha
Começo a me desfigurar por dentro
Em pedaços, em restos podridos
Lá está, me vejo preso em teias
Sendo predado pela minha vergonha, amarrado
Não me resta súbita vontade alguma, acabado!
Consumido e encarcerado no estômago da besta
Preso no breu imensurável de um vazio
Que esqueira suas sombras dentro de minha garganta num ato sufocante
Meus olhos lacrimejam tomados pela dor
Eis que me dou conta que estou me assistindo sendo devorado e aniquilado
Com muito esforço, olho para os fundos dos olhos da criatura que em minha frente está me deixando acabado
Sou tomado então por um sentimento de angústia
Paralizado, somente a melancólica vibração de golpes de dentro do peito
Eis meu monstro, o algoz que a mim ganha
Trajado de minha face: é meu arrependimento e minha vergonha