Algoz

Hoje a tristeza não é passageira

Hoje a voz do pensamento é corriqueira

Há um animal em minhas costas

Cravando, suas garras em mim peçonha

Começo a me desfigurar por dentro

Em pedaços, em restos podridos

Lá está, me vejo preso em teias

Sendo predado pela minha vergonha, amarrado

Não me resta súbita vontade alguma, acabado!

Consumido e encarcerado no estômago da besta

Preso no breu imensurável de um vazio

Que esqueira suas sombras dentro de minha garganta num ato sufocante

Meus olhos lacrimejam tomados pela dor

Eis que me dou conta que estou me assistindo sendo devorado e aniquilado

Com muito esforço, olho para os fundos dos olhos da criatura que em minha frente está me deixando acabado

Sou tomado então por um sentimento de angústia

Paralizado, somente a melancólica vibração de golpes de dentro do peito

Eis meu monstro, o algoz que a mim ganha

Trajado de minha face: é meu arrependimento e minha vergonha

Polaris
Enviado por Polaris em 24/10/2023
Código do texto: T7915974
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