TORMENTA
Um manto escuro e pesado desce
Lentamente meus olhos observam
Na linha ao longe a imagem que cresce
Densa dança em gotas que pesam
Galhos acenam suas folhas
Um cumprimento ou adeus para quem vê
Redemoinhos domam as palmas soltas
Lamentos em letras úmidas demais para ler
Estrondos acendem o cinza estampado
Veias azuis transludem o olhar
Dos que sentem o sopro encorpado
Tornado em tormenta no céu a sangrar
Intensos açoites lançados ao chão
Tecidos mesclados pelo choro
A pele lavada ao toque do algodão
Fios embebidos colados no rosto
Comunhão e pressa em fuga, pés e poças
A mão aperta e refuga a rebeldia dos vestidos
A atenção acerta o viés e o decoro das moças
Lufadas fortes destorcem cada um dos abrigos
Minha visão nublada ainda insiste em encontrar
Um caminho seguro em meio ao turbilhão
Mas só há desalinho em meio à imensidão
Os céus desabam, impiedosa fúria em pesar
Lágrimas, rios e oceanos se mesclam em dor
Trágicas agonias em fios humanos de clamor
Por algo cada vez mais distante
Águas calmas, fora de alcance
Pedras que caem, lançadas ao ar, poder interno
Forçadas a ruir pela vontade das chamas
Setas selvagens em claros sintomas
Projetadas pelos céus, moldadas no inferno
Bocas famintas se abrem no asfalto
Engolem sem predileção o que é tragado pela garganta
Já não há distinção entre a terra e o alto
Tudo é água, tudo é dor, nem mesmo uma prece adianta
Aos poucos, o azul dissipa as trevas
Uma luz esguia alcança o horizonte
Ameniza as dores por demais longevas
Acalenta, por mais que a tormenta amedronte