Lira gótica II
Zunia-me à êxtase úmida e doentia:
" - Pois tenho lividez... Que eu inda chore!...
Vens na sofreguidão malsã, sofria.
Para escorrer-me à dor, que o corvo adore
Ver-me tristonho, há uma ácida epiderme;
Sabes deveras, para que me ignore...
- Teus gostos arteriais, irás comer-me,
" Digo-te adeus! Adeus! Adeus! Querido...
Junto com o meu cimo, inclui um verme.
Em ti me assistes lôbrego e jazido;
É a agonia saniosa, é o vosso opróbrio...
Dói-me com meu planger estremecido.
- Digere-me, alimenta-me a esbroar sobre o
Sangue até ao calor, sem ti, não vivo...
Sem riso nem amor... Sofro-me insóbrio.
Sem antojar, que eu sinta tão nocivo
À assaz lugubridade nos meus olhos,
O enleio e o sofrimento negativo
Ah! Eu, com o azo nauseado e os fortes molhos...
Os corvos me roerão pela clavícula;
Sei que me sofro muito, nos antolhos.
Quero perdoá-lo, sem união ridícula;
Vais voar, esvais em vácuo vão, avista?!...
Foste engulhado, agora sem avícula.
Perdeste as asas negras, mas sem vista...
- Deprimo-me sem ti, nos meus temores
Tenidos, que sofreste sem a lista:
" - Nem pude te mandar mais quando fores..
Para rasgá-la, vens no ódio angustiante,
É este antropofagismo, sem amores.
Espera-me com perda atra e vagante...
Pudeste vê-la abscôndita quem choras,
- Sabes que já sentias devorante"...
Repito ultimamente, não me ignoras:
" - Come-me, então me cevas em pedaços...
Até o sangue estripado, nunca coras.
Que inda pareces ter um peito de aços...
Mastiga-o, range-o, embrulha-o, amassa-o, engole-o.
Como um dos teus porções feios e lassos.
- Meu corvo, jaze-me hílico no espólio.
Lucas Munhoz
(17/06/2023)