Lira gótica I
Enaltece-se a teia
Num malévolo sonho entre os enterros;
Ó meus frígidos berros!
Que o Ceifeiro te enleia,
A mortalha lodosa e o mal noturno
Que eu me tremo no turno.
De um atroz dissabor
Ao micróbio sombrio, invadindo a haste
A comê-la! Gritaste!
Ei-lo ao grande pavor,
Foi capaz de zunir-me no atro breu,
Mas gritou e gemeu...
Eis-me à má frigidez,
Que me escutes na voz à fria chaga
Pois me dói entre a praga,
Fi-la na asca mudez,
A simbiose me vem da vianda prisca,
A enterrar-me, rabisca.
E o terrífico bicho
Dentre o próprio castelo que escurece...
Ó desejo da prece!
A carniça dum nicho,
Que um atroz lodaçal veio primevo
A deixar-me no enlevo.
Tuas lianas horrendas,
Ó maldita esperança entre a estranheza
De um horror que despreza
Com sudários, que entendas;
E o tinir de um Ceifeiro ósseo e brutal
Dentre o ser lacrimal.
Eis que o pérfido rosto...
Vejo-o bem taciturno como um luar
Escuríssimo, a arfar
Teu umbral decomposto;
Sem vergel nem beleza, que há asfixia...
Mesmo que inda angustia.
Vês a dor putrefata
Que eu terei... De um abismo cruento à sombra
Eu não sei quem assombra,
É em negrume que mata!
Com um ar germinal em que horroriza...
Que uma larva desliza.
Refugia-te à artéria,
Leste um livro do Musset quem sofreste,
Pois choraste na peste...
Ias vê-la funérea
Por cevar-te no chão funesto e astuto,
Asfixiado num luto.
O mancebo esquelético
Vinha ao mau catedral enquanto grita,
Sente a mácula aflita
Dentre o sangue, ei-lo cético...
Finda-o com o furor à foice, a tênia
Asca e túmida, tene-a.
Lucas Munhoz
(14/06/2023)