Autoflagelo
Moinhos de vento giram em meu estômago
Giram, giram tanto que me dão enjôo
A despeito do incômodo em meu ventre sôfrego,
Abro minhas asas, sem alçar nenhum vôo
Encolho-me na minha cama,
Oprimida por minha minuscalia
Ignoro a vida, fora de casa, que me chama
Maquiando de prudência, minha covardia
Autoflagelo, pior do que cortar a pele
Essa sina que me cerca e me norteia
A verdade que minha consciência repele
Essa loucura de amar quem tanto me odeia
Contradição, temer tanto a morte,
Se não tenho respeito por minha vida
Planto meu sofrimento, jogo fora minha sorte
Cubro de trevas, minha consciência reprimida
Não quero nada mais para minha existência
E o que haveria de querer?
Alguém de dias contados, prestes a morrer
De que me valeria tão inútil insistência?
Apenas me deixe continuar pequena
Até a morte dizer chega e me ceifar
Varrer-me desse mundo que me envenena
Pois estou farta de tanto remar e naufragar
Nunca fui digna de nascer,
Como não sou digna de viver
Meu ventre sepulta essa triste verdade
Minha boca se cala diante à realidade
Minha inércia me mantém amarrada,
Pois se me mexo, eu me maltrato
Meu sadismo me faz condenada
Nele me redimo e me destrato
A tristeza mantém meus olhos abertos
O pessimismo torna meus medos certos
Caio aos prantos, aos pés do sacristão
Chicoteio minhas costas, implorando perdão