Calvário
Vida, pelos meus olhos, escorre
Tira de mim minha ira, minha fome
Na loucura, criatura morre
Sem passado, sem história, sem nome
Condenada a vagar na escuridão
Longe da graça, do poder da Criação
Mente aleijada, boca encerrada
Pois tudo se foi, em mim não há nada
A misericórdia divina,
Que nesse reino não habita
A seta sangra a carne, a peste germina
A terra apodrece, o mundo grita
Pois o legado de Satã, agora, domina
O que antes foi o Éden, debilita
Não entre, minha mente está fechada
Não há esperança, aqui não há nada
Consumido no pecado,
O homem lança ao fogo sua salvação
Por sua própria corrupção, foi devorado
Ao abismo, lançado por sua própria mão
O gozo do ímpio, o justo crucificado
Mundo condenado, irmão mata irmão
Não insista, minha face está vendada
A loucura não me deixa ver nada
Vísceras e sangue adornam este chão
Por onde os mortos caminham
No inferno, não há descanso, concessão
Ou preces àqueles que definham
A música da noite, o cheiro da podridão
Meus ossos perecem em sua maldição
Condenada a esse cárcere mortuário,
De olhos fechados, velo meu calvário