Repouso
À beira do penhasco,
Cabisbaixo, sentado...
Elevo meus pensamentos
Ao mais profundo dos abismos.
Melancólico,
Alcoolizado,
Alma e corpo atordoados.
Na beira do precipício
Observo as águas baterem nas rochas.
Pula!
Elas parecem gritar a mim.
Tamanha é a ânsia de sua companhia...
Festejar com as ondas,
Junto às pedras.
Logo desanimo.
Olho para o alto.
A dor é suportável... Ainda.
Devia alegrar-me
Por encontrar companhia.
As estrelas me veem,
A lua sorri para mim.
Risca no céu uma estrela cadente.
Tão decadente quanto eu,
Assombrado pelo passado...
Com receio do futuro e odiando o presente.
Bebo mais um gole do absinto,
Olho novamente para baixo.
Solto a garrafa.
Vejo-a estilhaçar na superfície pedregosa.
Levanto-me e de pé na beira do abismo,
Ponho-me a observar
A imensidão do azul-marinho, a convidar-me.
Ergo os braços em “Da Vinci”,
Entrego-me ao oceano.
Das várias ondas que em mim batem...
Em meio as pedras,
Comparadas às muitas dores
Que a mim antes assolavam,
Somente uma,
Rápida e eficiente,
Foi suficiente para dar-me repouso.