Repouso

À beira do penhasco,

Cabisbaixo, sentado...

Elevo meus pensamentos

Ao mais profundo dos abismos.

Melancólico,

Alcoolizado,

Alma e corpo atordoados.

Na beira do precipício

Observo as águas baterem nas rochas.

Pula!

Elas parecem gritar a mim.

Tamanha é a ânsia de sua companhia...

Festejar com as ondas,

Junto às pedras.

Logo desanimo.

Olho para o alto.

A dor é suportável... Ainda.

Devia alegrar-me

Por encontrar companhia.

As estrelas me veem,

A lua sorri para mim.

Risca no céu uma estrela cadente.

Tão decadente quanto eu,

Assombrado pelo passado...

Com receio do futuro e odiando o presente.

Bebo mais um gole do absinto,

Olho novamente para baixo.

Solto a garrafa.

Vejo-a estilhaçar na superfície pedregosa.

Levanto-me e de pé na beira do abismo,

Ponho-me a observar

A imensidão do azul-marinho, a convidar-me.

Ergo os braços em “Da Vinci”,

Entrego-me ao oceano.

Das várias ondas que em mim batem...

Em meio as pedras,

Comparadas às muitas dores

Que a mim antes assolavam,

Somente uma,

Rápida e eficiente,

Foi suficiente para dar-me repouso.

Carlos Daniel (Ricardo Montana)
Enviado por Carlos Daniel (Ricardo Montana) em 27/02/2023
Reeditado em 27/02/2023
Código do texto: T7729182
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