Homem Líquido
Quero derreter-me sobre um calhamaço de papel,
sangrar a tinta que representa minhas aflições,
as dores póstumas que torturam meu inconsciente;
Costurar-me nos devaneios das minhas angustias oníricas.
Quero expressar-me como homem líquido e moderno, de caráter ultrapassado;
Quero morrer na minha arte de vomitar palavras,
mas não realizarei minhas ambições.
Hoje não há papel,
não há tinta,
não há sangue,
não há homem
Ofereço-lhes algoritmos frios, ao invés de homens indiferentes,
teclados mecânicos e falhos, ao invés de canetas vacilantes,
softwares inacabados, ao invés de papeis cortados,
liquidez em meio a concretude.
Resta-me ser um homem dúbio e pendular,
um poço de incertezas hipócrita,
uma poça de sentimentos rasos,
um inveterado artista popular.