Finado indaiatubano
Trêmulos fins, o helminto vem da ruína;
Traem-no em gruta lodosa, sem que o afastes
Oxíuro ama o caixão com carne fina.
É hirto, é absconso, é comível aos maus trastes;
Julgando-o à malvadeza que em si, cose-a
Por causa de finado, com que bastes.
Muitos caixões priscos, chegando à ambrósia
Para comê-la à úmida flor que range;
Irá arranhá-los, maus, que chama um sósia.
Lá esta vianda atra e fétida, que o abrange
Para ver-me no olhar horrorizante
Até o escarlate e a mácula, constrange.
Culmina-me entre as cruzes que te encante
E queres vê-las funerais e raras;
Dentro de carnes, come-as; mais possante.
Só Orbes serenos, sendo sujos, paras
Em caixão, tens andado até na boca
Ao salivar sanguíneo em rosto e tiaras...
Fel furioso, ao feder; que um feixe foca,
Eu saio ao cemitério indaiatubano
- Gane, cruento e magérrimo, me toca.
Riem de mim, vede-me ao ódio, se é harto e humano...
Almoça-me na cova, cruentamente;
Deixa-me respirar entre o alto dano.
Há o agouro altruísco, lívido e silente
Pela frialdade, sinto-o escuro à brasa...
Ganindo com bramir, frio e pungente.
Assombra-te ao adoentar em mim que eu jaza!...
Como as visceroptoses, meu ser néscio;
Eu, o anjo do negror, mesmo sem asa.
- Um dos Oxíuros ama os mortos, cresce-o.
Lucas Munhoz
(05/10/2022)