O Chamado do Mar Podre

O Chamado do Mar Podre

Uma mórbida manhã no mar,

Onde no céu cinza sobrevoam

- Não gaivotas brancas e pelicanos -

Urubus gigantes e seus amigos corvos,

O ar é denso, não tem ventos

E um cheiro de carne sobe.

Na água bóiam cadáveres.

De onde vêm as aves

se não há sinal de terra?

Apenas…

Morte.

Os dias se passam

e não saímos do lugar,

Os pássaros desceram,

Começamos a morrer,

Não podemos jogar fora

a tão preciosa carne,

Precisamos comer!

Quando o anzol não prende

num cadáver a boiar,

O peixe está podre

Sua carne se desmancha

Num fétido cheiro

de decomposição.

Agora quando bebemos rum,

Olhamos no espelho e somos esqueletos,

Não apenas nos espelhos,

Até uns aos outros,

Foi aí que começou

Nossa boa, velha (e maldita)

Gargalhada.

Nossa farra não tinha fim,

Dançamos a madrugada toda,

Bêbados com o rum

que os agora nossos amigos

pássaros hão de trazer,

Com o brilhar vermelho

desta lua de sangue

Neste negro céu.

Numa bela e mórbida tarde,

Avistamos um ababelado navio

Maior que qualquer cérebro desmiolado

(Como o seu)

poderia imaginar,

O mais belo navio que o mar já vira,

Com velas negras e vinho escuro,

A bandeira dos mortos,

Madeira escura e resistente,

Colheita das árvores

fo próprio submundo,

Milhares de canhões,

E a carranca viva

co'a alma do próprio Leviathan.

Lá, como nós,

Festejavam a gargalhar,

Outros sem corpos ou carne,

Era o chamado!

A hora de entrar no navio errante

Beber com Davy Jones

E dançar a bordo do maldito Holandês Voador.