Cárcere da morte
Dentro do meu triste mausoléu
As trevas cantam as agruras
A viúva e seus lamentos sob o véu
E a dor vem cruel e dura
No ranger dos caixões que se avizinha
Vejo a morte a festejar
As caveiras com suas vozes fininhas
Tal qual um agouro de matar
O fedor das carnes recém chegadas
São um banquete para os vermes
Que devoram toda a pele rasgada
É o prato principal que se serve
O cheiro de enxofre toma o ar
Rastros de sangue pelo corredor
Mais um desgraçado acaba de chegar
Um caixão novinho, puro frescor
No chorar da viúva eu me alegro
Pois a sua tristeza é a minha alegria
Ao partir mais um corpo, eu feliz pego
Pois é o meu alimento de todos os dias
Uns me temem e eu não tenho platéia
Mas a vida é assim, a terra há de comer
Sou um ser invisível, sou a bactéria
Que vai agindo ferrenha pelo apodrecer.