DO LADO DE LÁ
Lá estão aqueles insones testamentos
de quem vive e teima com a morte
Junto com as promessas
que se perderam no vento intempérie
Sem juízo nem condenação prossegue
Espera que não trás moção
e estático movimento antes que emperre
Nem conhece a destruição
Nem a construção
Nem sabe o que vem de cima a passos incertos
Entre segredos e desvendados mistérios
Lá se vai a chance de arrependimento
Lá se faz de novo e velho inferno
Onde o fogo não se apaga
e o seu verme não morre
Lá onde foi sepultada a esperança
Onde a noite era criança mas cresceu
Sem estrelas,
sem lua
Sem luz
Nem andarilhos que deixavam rastros afoitos
Sem destino
Que fantasmas assombram esse lado?
Ninguém sabe, só quem está lá
Ao mesmo tempo estar lá é razão e sustento desse segredo
Noite incerta de tempo incerto
Onde o lírio da paixão murcha e não deixa muda ou semente
Extinguirá assim o fogo?
Deixará só cinzas?
O fogo é apenas luz primordial
Basta que alguém o invoque e eis o infâme a brotar
Não morre nem apaga
Não vive nem acaba
Apenas é, e nada mais
Decerto e de resto, só resta a escolha
Qual o lado?
Vai girar o tambor?
Ou vai ouvir o barulho da agulha na sorte?
Reza...
Porque o lado de lá te espera
Tão certo como o lado de cá
Encerra...
06/06/2022
14:28hrs