DELÍRIOS SANFONADOS

A lua está escura.

Gatos gemem e miam

Num cio apoteótico.

As estrelas não piscam,

Pois se esconderam trêmulas,

Receosas do labirinto noturno.

O silêncio traduz uma balbúrdia

Que fere a acústica dos tímpanos,

Malogrados pela solidão desértica.

Cães uivam espavoridos de medo...

Mortalhas cruzam os céus vazios

Espanando a dor fictícia dos ares.

Vozes abafadas oram Ave-Marias.

Os ventos proclamam tempestade.

As árvores dançam surripiadas.

E a morte advém meio sonâmbula

A cutucar corpos macerados de frio

Que tecem nas canções funestas

O calor da vida. E o sopro encobre

A devassidão da existência soturna

À espera nociva de um grito vão

Que faça no despertar da noite

O entalhe cíclico do bater cardíaco

Alucinado pelo estertor da liberdade!

DE Ivan de Oliveira Melo

Ivan Melo
Enviado por Ivan Melo em 28/08/2021
Código do texto: T7330603
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