Ensaio Sobre a Mortalidade
Sob a feitiçaria de Cupido, um enamorado
Presenteou-me com a Flor entre as flores!
Evocando-me delírios profundos e desesperados,
Mais belos que todos os delírios anteriores!
Ah! A rosa que me destes, ó mel da paixão!
É símbolo infalível de minha poesia depravada,
Lembra-me com exatidão, da Inês Desalmada.
Madonna sanguinária, vívida em meu coração!
Rosa, rainha eterna da morte e da paixão,
És a mais alta entidade de toda Natureza Naturada,
És a beleza, em corporeidade e perfeição,
És a única esperança de minh'alma desgraçada!
Tuas dialipétalas coroam com ostentação
Teu caule curvo, teus dentes acúleos,
Tua simetria actinomorfa, e tua clara nervação!
Coroam tuas cores que vão do sangue ao cerúleo!
Queria que fosse imortal ó rubra redenção!
Com necromancia ancestral, queria te manter.
Mas tu és efêmera, minha rosa, minha benção.
Como tudo que vive, também tens que morrer...
Que agonia, que horror, que desgraça infinita
É essa que rói como verme tudo o que me apraz?
Por que meus amores morrem, por que a incógnita?
Tudo cede, tudo se vai, por que, por que Satanás!?
Toda felicidade, toda bonomia é apenas um germe
Da tragédia inescapável de todos os amores!
Sou, como é a alegria, ração para verme!
Apodreço em silêncio, agonizo em minhas dores!
Como tuas pétalas, que mofam e fedem,
Como teu caule torna-se curvo e escurece,
Também estou mofando e escurecendo!
Estou morrendo, minha flor, estou morrendo!
E se morro, é meu desejo íntimo morrer como a rosa.
Desfalecer deslumbrante, numa desgraça bonita,
Pois, quanto mais belo se é, mais a morte é dolorosa!
Mais ainda choram os amigos, mais ainda!
Me cremem! Transformem em adubo o meu ser!
Meu corpo sofrido não merece uma carneira.
Meu desejo de morte, num orgulho como o de Lúcifer,
É ser, para sempre, o alimento parasita de uma roseira!