Pássaro de Barro
A casa estava tão escura
Um pesado e eterno breu
Tateava as paredes e a certa altura
Esbarrei em algo que era seu
Peguei a escultura com cuidado
Fui em direção a uma janela de vidro
Abrindo-a olhei a paisagem calado
Lembrando como tudo poderia ter sido
Deixei que a luz tomasse o velho quarto
Em minhas mãos um pássaro esculpido por você
Sentei-me em uma velha cadeira, já farto
Segurando o pássaro pensei que ia morrer
Era um velho corvo esculpido em barro
Uma estátua que tinha uma velha história
E agora o que aqui narro
É parte de pedaços de fatos soltos na memória
Dia e noite você passava esculpindo
Enquanto eu escrevia alguma poesia ruim
Não percebi que aos poucos sua alma ia esvaindo
Não fazia ideia que ao terminar a estátua, seria o seu fim
Quando o trabalho estava acabado
Um corvo velho de porte médio nascia
Olhei para seu rosto desfigurado
Peguei em sua mão enquanto você morria
Muitos anos depois voltei a casa amaldiçoada
Deparei-me com grande escuridão
Resgatei a velha escultura da ave intacta
Fui tomado pela emoção, pois nela estava seu coração
Lá fora escutei um estranho crocitar
Corri para a janela para ver o animal
E lá estava um grande corvo branco a se destacar
Em meio a paisagem decadente do local
Ele me olhou fixamente e enfim
Ergueu as asas e novamente crocitou
De alguma forma era como se você olhasse para mim
Depois bateu suas belas asas e para longe voou
Baseado no conto O RETRATO OVAL de Edgar Allan Poe