Pássaro de Barro

A casa estava tão escura

Um pesado e eterno breu

Tateava as paredes e a certa altura

Esbarrei em algo que era seu

Peguei a escultura com cuidado

Fui em direção a uma janela de vidro

Abrindo-a olhei a paisagem calado

Lembrando como tudo poderia ter sido

Deixei que a luz tomasse o velho quarto

Em minhas mãos um pássaro esculpido por você

Sentei-me em uma velha cadeira, já farto

Segurando o pássaro pensei que ia morrer

Era um velho corvo esculpido em barro

Uma estátua que tinha uma velha história

E agora o que aqui narro

É parte de pedaços de fatos soltos na memória

Dia e noite você passava esculpindo

Enquanto eu escrevia alguma poesia ruim

Não percebi que aos poucos sua alma ia esvaindo

Não fazia ideia que ao terminar a estátua, seria o seu fim

Quando o trabalho estava acabado

Um corvo velho de porte médio nascia

Olhei para seu rosto desfigurado

Peguei em sua mão enquanto você morria

Muitos anos depois voltei a casa amaldiçoada

Deparei-me com grande escuridão

Resgatei a velha escultura da ave intacta

Fui tomado pela emoção, pois nela estava seu coração

Lá fora escutei um estranho crocitar

Corri para a janela para ver o animal

E lá estava um grande corvo branco a se destacar

Em meio a paisagem decadente do local

Ele me olhou fixamente e enfim

Ergueu as asas e novamente crocitou

De alguma forma era como se você olhasse para mim

Depois bateu suas belas asas e para longe voou

Baseado no conto O RETRATO OVAL de Edgar Allan Poe

Paulo Raven
Enviado por Paulo Raven em 26/05/2021
Reeditado em 26/05/2021
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