O Corpo
O Corpo
Vejo um corpo estirado ao chão
Abutres sobrevoam-lhes a cabeça
É um corpo em estado de putrefação
Homens e mulheres por ele passa
No dia a dia de horas corridas
Não o percebe
O que vejo é uma cena de horror
O corpo
Devorado
Aves raivosas e enlouquecidas
Disputam o último pedaço sangrento
Percebo
Ninguém consegue visualizar
O que vejo é uma cena devastadora
E o que meus olhos vêem são
Restos mortais em meio à cinzas
Lembram-me um expurgo o que sobrou daquele corpo
Ninguém viu, ninguém se lamentou
Não houve comoção nenhuma pelo corpo
A vida lhe fora embora
Mais era tão atraente olhar pra aquele cadáver decrépito
Do corpo só sobrara os ossos
Em meio ao relento, com espessas camadas de cinza
Olhei mais uma vez pra aqueles ossos
Me pareciam tão fortes
Vermes nenhum os consumiriam de um dia pro outro
De fato não!
Aqueles ossos tão atraentes pareciam autossuficientes
Ao acordar de um sonho tão horrendo
Percebo
Morremos todos os dias do mesmo mal
O descaso.
Rita Fonseca