O perdão de Lúcifer
O perdão de Lúcifer
Tamanha dor e tortura
Sentia ele (Lúcifer),
Vagando descalço sobres as chamas.
Perambulava lento em meio ao fogo ardente.
Suas lágrimas nem sequer saiam das órbitas...
E logo o calor as dissipava.
Odiado e difamado pelos seus
E pelos outros...
Seu único destino é onde estava:
O inferno. Quente, vaporoso.
Onde almas gritavam e ardiam em febre eterna.
Onde o prazer se tornava condenação e pavor inacabáveis.
A sede era mais sede intensa,
No fogo, a brasa era congelante.
Solitário se mantinha, mas enlouquecido.
Assumindo uma culpa, que nunca foi dele.
Aceitando a condenação que era para ser de quem a merecesse.
O anjo acorrentado...
Pagava a penitência
Por aqueles que matavam, roubavam, destruíam.
Mas no final, sempre no final,
Eram eles os inocentes, e ele o réu dos padres.
E sempre se perguntava, cheio de rebeldia e raiva
Por quê uma criatura tão inferior como mortais
Deveria se safar de tudo, de qualquer crime, sem punição...
Apenas dizendo “É coisa do diabo!”.
Seu sofrimento era maior,
Angustiante.
Sentava-se no mais alto pico do tártaro,
De onde via toda as almas que caiam
Clamarem o nome do seu Criador em vão.
Já estavam mortas, mas vivas,
Agonizavam-se com o próprio pecado.
Lúcifer via a hipocrisia e a arrogância delas,
Porém nada podia e queria fazer por elas.
Até o final dos tempos, se lamentaria.
Até o Dia do Fogo, seria penalizado injustamente.
Mas quem o condenava?
Quem o vigiava na penitência?
Aliás... Por que o prenderam?
O pai do conhecimento...
É desde os primórdios da humanidade
Considerado o causador de todos os males,
O irmão rebelde, caçula e ciumento.
Olhava para cima e se recordava...
Do ódio insaciável que tinha
Pelos personagens do Jogo de Deus.
Que por isso caíra.
Que por isso o condenaram.
Que por seu orgulho fora expulso de casa.
Fizeram com que dele sentissem temor,
Fizeram com que todos o culpassem.
Fizeram com que não mais sentisse alegria.
Fizeram com que fosse a própria solidão.
Clamava por misericórdia.
Samael pedia o alivio da culpa.
Pedia Perdão ao seu Criador.
Todavia, Ele se mantinha em silêncio, ou nem sequer ouvia.
Entretanto, esperava uma resposta...
Sentado sobre aquilo que caía brilhando do céu,
Sobre aqueles que o arruinaram.
Aguardava, já que tinha a eternidade, pacientemente...
O perdão de Deus.
Carlos Daniel