Spleen
Spleen
Onde estás, maldito Thánatos,
impiedoso e célebre déspota
que para o lúgubre túmulo
não leva esse pobre tísico?
O físico, outrora lépido,
agora, de amante, réles mímesis;
quem sabe em lauda póstuma,
compreenda meu destino mísero.
Apavora-me o ambiente cláustico.
Trêmulo fico ante a púrpura túnica
que orna o fétido féretro,
lar derradeiro desse tétrico bêbado.
O fúlgido cortejo fúnebre
conduz meu corpo mórbido
a reencontrar minha gênese
nas profundezas mais lôbregas.
As Tágides do sáfico pântano,
recitam místicas éclogas,
escancarando as portas do cárcere
que abrigará meu corpo flácido.
Plácido o corvo sórdido
sorri um riso ácido,
jubilando-se com o fim mórbido
desse insano sôfrego e ávido.
A vida, sempre uma ópera mágica,
ensaia seu epílogo trágico;
eternizando momentos tórridos
em um ósculo deste, mesmo tímido.
Oh! spleen, viciante tóxico!
Meu mais secreto cúmplice.
Conhecedor dos desejos mais íntimos.
Revela-os nas inaudíveis súplicas:
- Encerra-me essa cólera
que se avoluma em meu âmago,
turvando minha mente límpida
e consumindo todo meu ânimo.
- Dá-me um cálice de doce bálsamo
venenoso e deita-me nesse mármore,
para que não mais haja dúvida
quando secar a lágrima última.
A treva tinge de negro a lâmpada.
A multidão chora lânguida
diante do prematuro óbito
do poeta de “sangue árdego”
que trôpego diz: - Não chorem, oh! Bávaras!
O pecado único desse pródito,
foi querer alinhavar cândidas páginas
que separadas ficaram por duas décadas.
@celsohenriquefermino