CONDENADA
Dedicado á todas as mulheres que tiveram suas vozes caladas e suas palavras desacreditadas.
A madeira está posicionada para queimar
Envolve o corpo da bruxa
Ela se contorce, ela se oprime
Ela chora, ela reza.
Então eles dizem: "bruxa, estás condenada"
Condenada por falar, condenada por agir
Por tuas vestes, por teu colo,
Por tuas vísceras de mulher.
Bruxa, estás condenada
Porque tu sangras, porque tu goza
Porque tu escolhe, porque tu respira
Porque tu nega, porque tu assente
Porque tu te contrasta ou é conveniente
Porque tu falas, porque tu és muda
Porque tu és costela, porque tu comeste a fruta.
Bruxa, tu vás queimar
Porque comeste o fruto, porque pariste
Porque teu útero expulsa os homens que te condenam
Para morrer na terra que também é mãe.
A madeira está posicionada para queimar
Ela reza, ela implora
"Respeita-me, eu rogo!"
Mas escarnecem, eles, seus juízes,
Veem nela a marca do desejo, de suas filhas
Que jamais serão como ela!
Submissas filhas, jamais bruxas
Para queimar e para rezar.
O fogo que acende corroi
Como o inferno patrono das bruxas
Porquê ela é Lilith, e não Eva
Mas Evas eles não podem encontrar
As Evas são as bruxas que imploram todos os dias
Todos os dias para não queimar.
Ouça os gritos delas
Ascendendo do seio da terra.
Elas são tuas mães
As matronas do mundo que te pariram
E tu reúne as madeiras nas praças
Para corroer, violar
E dilacerar.